O perfeccionismo, a busca pelo máximo de aproximação da realidade e a habilidade em trabalhar com o barro, o qual afirma ser o início de tudo, fez com que o artista plástico recebesse em janeiro o título de Mestre. “Tudo parte do barro. Você pode fazer de resina, de fibra de vidro, mas tem que passar pelo barro. O início tem que ser aqui. Faz de barro, tira a forma de gesso e do gesso passa pra resina, pra fibra de vidro”, detalha.
Questionado sobre a importância do reconhecimento, realizado por meio do título, sem hesitar, o artista responde: “Significa muito. É o sonho de todo artesão. É o auge. Apesar de que eu não me sinto no auge”, disse, com um sorriso no rosto.
Apesar dos diferentes materiais que trabalha, Fernandes revelou sua preferência. “Eu gosto de trabalhar com o barro queimado, porque você trabalha com os quatro elementos da natureza, que é a terra, a água – pra molhar, o fogo – pra queimar, e o ar – que é o combustível pro fogo queimar e que também serve pra secar”, enfatizou.
A carreira do artesão teve como influência o Mestre Zezinho de Tracunhaém, natural de Vitória de Santo Antão. Ele lembra que começou a trabalhar com o barro após o declínio do carnaval de alegorias de Vitória. Girafa, Camelo e Cebola Quente foram alguns clubes e troças que chegou a produzir os famosos carros para os desfiles de momo.
“Acabou o carnaval de alegorias, corri pro barro. Fiz um curso com Seu Zezinho de Tracunhaém, Mestre Zezinho. Ele fez um ateliê lá no Colégio 07 de Setembro, em Água Branca. Ele dava aula lá. Fiz o curso em 96, aí não parei mais”, contou.
Atualmente, em Vitória, Rodrigues já contabiliza quatro monumentos em praças do município, a exemplo da escultura de Padra Renato, na Praça da Matriz. Perguntado sobre a sua maior obra realizada, ele conta: “eu acho que não fiz ainda. Eu acho que, até agora, aquele índio, da Praça do Livramento. Mas, eu acho que ainda não é a minha maior obra”.
Entre os dias 06 e 16 de julho, Fernandes Rodrigues estará participando da 18º edição da Fenearte. Devido ao título recebido, ele estará neste ano com suas obras na alameda dos mestres, no hall principal. Considerada a maior feira de artesanato da América Latina, tem como objetivo valorizar, difundir os saberes tradicionais e estimular o potencial da cadeia produtiva do artesanato local. “É um evento muito importante para o artesão”, afirmou.
Através da Fenearte, o vitoriense criou novos contatos e foi convidado a produzir peças para os espetáculos dos 50 anos da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, encenada em Fazenda Nova, no município de Brejo da Madre de Deus, agreste pernambucano. Entre os materiais confeccionados estão as máscaras e amaduras dos soldados, luminárias, estandartes, trono, carruagem de Herodes, amadura de Pilatos, além de leões.
Até 2016, na Fenearte, apenas um artista plástico da Mata Sul de Pernambuco estava registrado e reconhecido como mestre. Para Hérika Araújo, produtora cultural e pesquisadora, o título concebido a Fernandes valoriza as produções de Vitória de Santo Antão. “Dá mais visibilidade as produções artísticas e culturais de nossa cidade. Reforça a importância de termos políticas públicas que valorizem esses segmentos”, destacou.
Por Danilo Coelho, do Blog Nossa Vitória