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Cansada de perder, Dilma tira Mercadante da articulação


A presidente Dilma Rousseff afastou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da articulação política do governo. Acusado de tratar parlamentares com arrogância e de não ter inteligência política necessária à função, ele conseguiu piorar ainda mais as relações do governo com o Congresso.

O ex-presidente Lula pediu a Dilma, pelo menos duas vezes, que o demitisse, e chegou a afirmar em reunião com políticos aliados que o ministro "sequestrou o governo". Como Dilma se negou a demiti-lo, o ex-presidente Lula passou a sugerir que ao menos Mercadante fosse afastado da articulação política. Essa sugestão de Dilma ocorreu há um mês, logo após o governo sofrer derrotas no Congresso atribuídas à atuação desastrada do ministro.

As principais críticas a Mercadante referem-se a decisões vistas como de confronto com o PMDB. O governo estimulou o lançamento da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que acabou eleito presidente da Câmara, em fevereiro.

Atribui-se também ao chefe da Casa Civil a ideia de criação de um novo núcleo governista, com a participação do ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e do agora ex-ministro da Educação Cid Gomes (PROS). O que mais irritou pemedebistas foi a propalada ideia de criação de um novo partido, por Kassab, entendido como uma tentativa de reduzir poder do principal aliado do governo.

Até Lula pedir o afastamento de Mercadante das funções de coordenador político, o ministro agia ativamente para tentar aprovar no Congresso as propostas encaminhadas pelo Executivo. Chegou a se reunir com as bancadas do PMDB e do PSD para pedir apoio ao pacote fiscal formulado pela equipe econômica.

Mas essa função passou a ser exercida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy - especialmente depois que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu ao Executivo uma das medidas provisórias do ajuste fiscal, que reduzia a desoneração da folha de pagamento das empresas.

Desde o início do mês, Levy já esteve no Congresso reunido com Renan Calheiros e Eduardo Cunha para discutir as medidas do pacote, assim como com a bancada do PT na Câmara, com a qual ele se reuniu na última terça-feira. A ausência de Mercadante no encontro com seu partido não passou despercebida aos participantes da reunião.

Protestos

Após as manifestações do dia 15 de março contra o governo Dilma, que levaram milhares de pessoas às ruas, outros nomes da articulação política vieram a público responder pelo Palácio do Planalto. Coube aos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, falar ainda no domingo sobre os protestos. O resultado da entrevista foi considerado "um desastre" por petistas e aliados, principalmente pelo tom de confronto adotado por Rossetto.

No dia seguinte, houve a troca dos porta-vozes do governo. Dessa vez, Cardozo fez dobradinha com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB). Ambos participaram de coletiva de imprensa no Palácio do Planalto para, numa nova tentativa, apresentar uma resposta do governo aos protestos. Mercadante, mais uma vez, esteve ausente.

O chefe da Casa Civil até participou do lançamento, no Palácio do Planalto, do pacote anticorrupção, na quarta-feira passada. Mas foi o ministro da Justiça quem voltou a ser o protagonista na apresentação feita aos líderes do Congresso. Foi Cardozo também quem comentou a queda na aprovação de Dilma, que chegou a 13%, e a reprovação, a 62%, segundo o Datafolha.

O chefe da Casa Civil teve ainda participação discreta na apresentação da medida provisória da renegociação das dívidas dos clubes, lançada por Dilma e pelo ministro do Esporte, George Hilton, na última quinta-feira.

Confiança

Embora o afastamento de Mercadante da coordenação política já tenha sido posto em prática, integrantes da cúpula do PT e de partidos aliados apostam que dificilmente Dilma irá tirá-lo da Casa Civil, por se tratar de um cargo de confiança da presidente. O ministro da Defesa, Jaques Wagner,muito próximo de Lula, é o mais lembrado para assumir o posto por ser considerado mais habilidoso na condução política.

A presidente preferiu, até o momento, ampliar o núcleo da articulação política, com a inclusão dos ministros da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), e de Gilberto Kassab.

Declaração de Dilma da semana passada, de que irá fazer mudanças "pontuais" em sua equipe, também foi interpretada por aliados como um sinal da indisposição da presidente em tirar Mercadante do Planalto.

Ele passou a ser o nome mais lembrado para voltar ao Ministério da Educação, em substituição a Cid Gomes, depois que um bate-boca com Eduardo Cunha no plenário da Câmara o levou à demissão. Mas já há, entre líderes políticos, quem aposte que Dilma irá optar por um "técnico" para tocar a pasta.

Diário do Poder
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